Democracia em Vertigem
Esse documentário conta a trajetória política dos últimos 40 anos a partir da visão da diretora Petra Costa. Ela conta sobre a crise na democracia, apontando para ascensão e decadência dos figuras do PT como Lula e Dilma e o cenário político pós ditadura. Ela faz um paralelo histórico entre sua vida pessoal envolvendo seus pais e avós e o contexto político. Seus pais foram guerrilheiros ou como também é chamado “subversivos” que durante a ditadura foram presos e obrigados a viver na clandestinidade, organizando revoltas contra o governo. Com histórico familiar assim, lógico que ela herdou essa influência política de seus pais. Militando pró PT, ela acompanhou o mandato de Lula, junto com as alianças políticas que ele precisou fazer para ser eleito, se associando a partidos tradicionais opositores e tendo patrocínio de empresas para suas candidaturas. O PT foi pouco a pouco se filiando e fazendo parte do jogo político para se estabelecer no poder, ao passo que vinha lutando para trazer melhorias para população trabalhadora como bolsa família e a inserção do negro nas universidades. Esse é só um pedaço do filme não vou contar tudo aqui. Mas ele se estende até a prisão de Lula e a candidatura e posse do Bolsonaro.
Falando do argumento do filme, ele traz essa ideia de que estamos em uma profunda guerra pela democracia no Brasil, citando o fato de que a própria república foi por um golpe militar, e deixa claro que a máquina política é governada de fora por empresas em sua maioria empreiteiras e líderes das maiores commodities como carne, minério entre outras que a décadas comandam a república, sem viés político entre direita ou esquerda se associando a qualquer um que priorize os seus interesses. Apoiando e comandam assim a maioria dos partidos. Assim conseguem controlar quem fica e quem sai, e o principal exemplo disso foi o suposto impeachment da Presidenta Dilma e a prisão de Lula principal candidato para as eleições de 2018, Petra Costa nos faz questionar se vivemos em uma democracia de fato, mostrando um país dividido e polarizado mas ao mesmo tempo com uma elite organizada para manutenção de um estado alinhado a seus interesses.
Análise
Ele brinca com essa montagem paralela narrando os fatos de forma descompassada, quase como se estivesse contando os acontecimentos em uma conversa na sala de estar de um domingo a tarde, indo e voltando ao passado e a história da sua família, ao passo que quebra a linearidade convencional. Entramos na cabeça cineasta, ela nos faz pensar que estamos lá com ela, através dos seus planos subjetivos, suas falas por trás da câmera e como ela interagem com a câmera quando por vezes aparece. Temos a impressão estarmos lá em primeira pessoa, sendo ela ou um amigo presenciando os acontecimentos. Dessa forma ela passa mais emoção aos acontecimentos e sinergia com a obra, deixando o filme bem humano.
Impressões
Petra mostra como sua família esteve intrinsecamente envolvida nas decisões políticas, mostrando que todos de alguma forma participaram e tiveram um papel importante na construção do país. Eu me vi nisso quando ela cita os protestos de 2013 onde eu fui um dos que saiu às ruas.
Acredito que somos pouco representados na política, mas também acredito que temos uma ampla atuação na vida cotidiana, na política do dia a dia. Se limitarmos nossa atuação apenas para as eleições estamos perdidos, mas se ampliarmos nossa visão para centenas de iniciativas que estão sendo feitas pela sociedade civil cada vez mais organizada por meio da internet, que vem colocando em pauta várias reivindicações frente ao poder público e fiscalizando-o de perto e estando cada vez mais informada, acredito isso é um avanço, inclusive com filmes como esse nos levando a debater o passado e fazendo com que a história do Brasil fique cada vez mais popular.