Poucos sabem, mas o personagem Conan, mundialmente conhecido por uma loooooonga série em quadrinhos (a primeira história foi escrita em 1952) e três filmes (sendo um uma refilmagem), na verdade é um personagem literário, criado nos anos 30 pelo escritor Robert E. Howard, e que ajudou a formatar o estilo “fantasia heroica”, que mais tarde seria utilizado por muitos outros escritores em muitas outras sagas fantásticas.
Howard escreveu 19 histórias contando as aventuras do guerreiro cimério, em todas as suas fases: bárbaro, mercenário, pirata e, finalmente, rei. E estou escrevendo esse texto justamente porque acabei de ler uma compilação com alguns desses contos.
E achei sensacional!
O universo de fantasia criado por Howard para o seu personagem Conan é vasto e extremamente detalhado. Recheado pela história de civilizações milenares, com suas guerras e alianças, suas ciências e feitiçarias, apresenta aos leitores um alto nível de detalhamento dos costumes, hábitos e tradições dessas civilizações. Assim como em Tolkien, Lewis e outros (mais recentemente George Lucas e George Martin, por exemplo), os fatos históricos inventados têm total conexão entre si, bem como com a linha do tempo que acaba se estabelecendo e o comportamento das sociedades envolvidas; ou seja, você dificilmente encontra “furos” ou inconsistências, e é convidado a realmente entrar na fantasia e soltar a imaginação, mergulhando nas entranhas daquele mundo e se encantando com ele.
E o mais interessante desses universos é que eles fervilham de arquétipos!! A princesa que quer ser salva, os magos e suas conexões com o desconhecido, o mercenário de bom coração, a guerreira implacável que surge do feminino violentado, monstros híbridos de natureza humana/bestial. O próprio Conan é, ao longo de sua vida, uma representação de vários desses arquétipos.
Há até certa semelhança entre Howard e Lovecraft. Ambos são mestres em imaginar criaturas de pesadelos, disformes em um nível muito além do físico e cuja existência é uma violência contra a natureza; criaturas que levam à loucura e ao desespero aqueles que as contemplam. Assim como Lovecraft, a narrativa de Howard frequentemente se torna sombria, e a esperança sempre abandona o personagem perseguido por algum horror inominável, preso nas catacumbas de alguma cidade antiga e abandonada. Desesperança essa que, pela maestria do artista, nós, leitores, também sentimos.