Eu tenho uma mentalidade muito empreendedora pra me preocupar em ficar criticando capitalismo na academia. Eu entendo muito das posições críticas ao capitalismo, especialmente quando entendemos o capitalismo num sentido marxista, cuja associação ao Estado é inevitável. Agora, eu não posso me dar ao luxo de olhar pros problemas do mundo sem tentar saná-los na prática, e a verdade é que os problemas começam sempre num sentido micro: você tem que resolver a si mesmo antes de resolver aos outros e ao mundo.
Por isso mesmo tô cada vez mais preocupado em ter uma fonte de renda. Na condição de professor desempregado (mandei currículo para dezenas de escolas aqui em Porto Alegre e até agora nada), não vou ficar me lamentando diante do fato de que não sou assalariado. A verdade é que até prefiro assim, gosto do fato de que posso ser meu próprio gerente, determinando como eu trabalho, quando trabalho e a que preço. É por isso que tento unir o útil ao agradável: se gosto de fazer vídeos, por que não extrair renda disso?
Quando abri para apoiadores investirem no meu hobby, transformando-o em trabalho, não imaginava que conseguiria os mais de 200 reais mensais que recebo hoje de 9 pessoas que gostam do meu conteúdo. Também não imaginava que receberia tantos dólares quanto comecei meu canal no YouTube. De fato, nada que pagasse o custo que tive pra produzir mais de uma centena de vídeos, todos disponíveis de modo gratuito pra quem quiser ver, vídeos muitas vezes educativos, com referências e indicações intelectuais; vídeos muitas vezes opinativos, mostrando que tenho um lado, o meu lado, que por acaso é o lado de muita gente.
Mas o hobby ainda não é trabalho, e é preciso trabalhar para sobreviver. Se o intelectual de aspiração marxista critica o capitalismo, é porque tem problemas com o trabalho, porque gostaria de viver num mundo onde o trabalho beira a desnecessidade, sendo possível ficar apenas filosofando em ócio criativo o dia inteiro numa sociedade pretensamente justa. Nesse sentido utópico, eu também sou marxista: ora, prefiro não precisar transformar tempo e labor em dinheiro.
Agora, quem disse que minha preferência é determinante? Nem mesmo a favor de mim mesmo! O que determina a conduta de qualquer um são as condições que possibilitam sua agência. Se não tenho comida, preciso de comida e, portanto, minha ação se inclina à busca da comida. Se não tenho dinheiro e dele preciso, minha ação vai nesse sentido, e isso ocorre em todos os níveis da nossa realidade mundana (até mesmo ao nível da curiosidade filosófica). A pirâmide de Maslow é real.
Ora, se não tenho trabalho por meio do qual extrair o dinheiro, o que me impede de transformar em dinheiro aquilo que já faço de modo espontâneo e naturalmente dedicado? Quem dera ter uma bolsa integral e só me preocupar em ficar pesquisando pro mestrado, mas na ausência da regalia estatal, impera a necessidade, e necessidade é a geradora da criatividade, que é a verdadeira motivadora do livre mercado. Educação é mercadoria sim, e é por isso que tô me dispondo a dar aulas particulares e combinando com algumas pessoas para lançar cursos de filosofia.
Que a mentalidade anticapitalista vá de retro, satanás. Antes de me guiar por aspirações coletivas, sou um indivíduo precisando respeitar meus próprios desejos, limitações e possibilidades. Se o trabalho dignifica, tornar-se empreendedor de si mesmo transforma, autonomiza e supera a mentalidade assistencialista parasitária. Bora gerar valor definindo as próprias métricas, porque se independência não existe, ao menos deve ser desejável.